Um pouco de psicologia positiva para cuidar melhor do dinheiro
Há uma relação entre emoções como ansiedade, raiva e solidão e a autoeficácia financeira, a capacidade de se organizar e atingir metas
Sarah Asebedo é diretora da faculdade de planejamento financeiro da Texas Tech University e não tem dúvidas: a psicologia positiva é capaz de desempenhar um papel relevante para as pessoas retomarem o controle de seu dinheiro. Quando nossas finanças vão mal, há boas chances de isso ter um forte impacto negativo em nosso bem-estar mental, o que torna ainda mais importante sabermos lidar com a situação. Em primeiro lugar, o que caracteriza a psicologia positiva é que, em vez de focar na doença, na patologia, ela se apoia nas forças que o indivíduo tem e que podem ser utilizadas na superação das adversidades.
O psicólogo norte-americano Martin Seligman diz que o problema da psicologia tradicional é ter adotado o “modelo da patologia”, deixando de lado a busca da felicidade. Costuma usar como exemplo pessoas que conseguem nutrir um sentimento de bem-estar e otimismo mesmo encarando os reveses que fazem parte de toda trajetória. Ele criou a “cartilha” Perma+, cujas letras correspondem a emoções positivas (positive emotions), engajamento (engagement), relacionamentos (relationships), significado (meaning) e realizações (accomplishment). O sinal + indica que precisamos também de atividade física, alimentação adequada, sono e otimismo. Investir em todas essas frentes é o caminho para superar os três Ps que atravancam nossa vida: permanência, prevalência (ou contaminação) e personalização.
Permanência é a crença de que tudo continuará assim para sempre, ainda que a lógica e as evidências indiquem o contrário. Prevalência é a tendência de generalizar e deixar que um fato negativo contamine tudo à nossa volta. Por último, personalização é acreditar que, no fundo, tudo é nossa culpa.
Não se trata de um manual para ser feliz em tempo integral. Se um fato provoca impacto negativo, aquilo fica gravado em nossa mente e a tendência é desencadearmos um padrão recorrente de resposta. Se não temos como alterar o que ocorreu, podemos trabalhar para atenuar a influência que determinados eventos têm sobre nós – não estamos fadados ao fracasso! Normalmente, são os momentos ruins que mais mobilizam nossa atenção, por isso acabamos subestimando os bons.
Sarah Asebedo é diretora da faculdade de planejamento financeiro da Texas Tech University — Foto: Divulgação
E como essa disposição mental baseada numa visão otimista das coisas pode influenciar a capacidade de planejamento financeiro e evitar comportamentos de risco? As pesquisas da professora Asebedo apontam para uma relação estreita entre sentimentos e emoções como ansiedade, raiva, solidão e contentamento e a chamada autoeficácia financeira (financial self-efficacy, ou FSE), ou seja, a capacidade de cada pessoa se organizar para executar ações e atingir metas.
Quando se tem uma avaliação ruim sobre si mesmo, atributos como controle, resiliência e confiança estão em baixa, com efeitos adversos para poupar, investir e pensar a longo prazo.
O trabalho de terapeutas financeiros é atividade já bastante disseminada nos Estados Unidos e auxilia não somente quem está em dificuldades com o orçamento, mas também na preparação para a aposentadoria. Um modelo batizado de ABC identifica a ativação de eventos (activating events), crenças (beliefs) e consequências (consequences). Por exemplo, permite que a pessoa mapeie um gatilho (uma compra por impulso) que alimenta suas crenças (de não saber cuidar do próprio dinheiro) e dispara uma consequência emocional, como ansiedade ou desespero. Para sair do círculo vicioso que leva muita gente a se sentir derrotada, é preciso introduzir um contraponto para rebater os pensamentos negativos de ser um perdedor. É o primeiro passo para recuperar a energia e o otimismo necessários para buscar alternativas para voltar aos trilhos.